Por DJALBA LIMA (*)
Baseado no livro O poder da destruição criadora – Inovação, crescimento e o futuro do capitalismo, de Philippe Aghion, Céline Antonin e Simon Bunel. Philippe Aghion é um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Economia de 2025, ao lado de Joel Mokyr e Peter Howitt, por seus estudos sobre como a inovação impulsiona o crescimento econômico por meio da “destruição criadora”.
A economia moderna cresce graças a um fenômeno desconfortável, mas essencial: a destruição criadora. Novas ideias derrubam antigas estruturas. Produtos inovadores substituem os obsoletos. É o movimento que Joseph Schumpeter chamou de o “motor do capitalismo”.
Philippe Aghion – um dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2025 – mostra que o crescimento só é sustentável quando a inovação é constante, a competição é real e as instituições permitem que o novo floresça, mesmo que isso implique a morte de empresas e modelos ultrapassados.
Mas e quando o país não consegue romper com o velho? É aí que o capitalismo emperra. E poucos lugares ilustram esse impasse tão bem quanto o Brasil.
A competição que não acontece
Aghion defende que a inovação depende da competição. Sem ela, empresas se acomodam; com ela, são forçadas a se reinventar.
No Brasil, porém, a concorrência é estreita e desigual. Setores inteiros — como bancos, telecomunicações e construção — são dominados por poucos grupos com poder político suficiente para bloquear novos entrantes.
A “inovação” passa a ser cosmética: aplicativos bancários mais bonitos, mas com tarifas do mesmo tamanho.
Enquanto isso, startups enfrentam burocracia, tributação confusa e falta de crédito. O resultado? Um país com muito empreendedorismo de sobrevivência e pouco empreendedorismo transformador.
O labirinto burocrático
A destruição criadora requer instituições rápidas e previsíveis. Mas no Brasil, cada passo é uma maratona de papelada. Empresas que inovam em ritmo digital são obrigadas a seguir regras analógicas.
Essa lentidão favorece quem já está estabelecido: corporações com departamentos jurídicos e fiscais robustos.
Na prática, a burocracia funciona como um escudo para o velho e um muro para o novo.
Falta investimento em inovação
Países que apostam na destruição criadora investem pesado em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
No Brasil, o investimento não passa de 1,2% do PIB – metade da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). E o que é pior: sofre cortes e contingenciamentos constantes.
A ponte entre universidades, empresas e governo também é frágil. A ciência produz, mas a inovação não chega ao mercado.
O que sobra são ilhas de excelência, como Embrapa e Embraer, cercadas por um oceano de inércia.
Destruição sem criação
Quando a inovação substitui o velho, trabalhadores precisam migrar para novos setores. Nos países desenvolvidos, há políticas de requalificação. No Brasil, há desemprego estrutural.
A cada ciclo de mudança, milhares perdem espaço sem encontrar novas oportunidades. Sem políticas ativas de transição, a destruição criadora se torna apenas destruição – social e econômica
O Estado capturado
Na teoria, o Estado deveria proteger os inovadores. Na prática, protege as empresas estabelecidas – incumbents (antigas), como chamadas pelos autores do livro –, que vivem de incentivos fiscais, licitações e lobbies.
Aghion alerta: quando o Estado é capturado por elites econômicas, a inovação morre. No Brasil, as renúncias fiscais bilionárias vão para quem menos precisa.
O velho não é substituído pelo novo, mas subsidiado para continuar existindo.
Inovação sem inclusão
Aghion argumenta que a destruição criadora só é sustentável se for inclusiva – com redes de proteção, educação e políticas redistributivas.
O Brasil, profundamente desigual, falha justamente aí. Sem segurança mínima, o trabalhador teme o novo. A inovação vira ameaça, não oportunidade.
E onde há medo, há resistência à mudança.
O medo de errar
A cultura empreendedora brasileira ainda é marcada pelo estigma do fracasso. Enquanto o Vale do Silício celebra quem falhou e recomeçou, o Brasil pune o erro.
Crédito difícil, impostos altos e medo jurídico sufocam o risco.
O resultado é um país de “empreendedores defensivos”, que preferem não inventar nada.
O paradoxo brasileiro
O Brasil tem tudo para inovar:
• Um mercado interno imenso,
• Universidades fortes,
• Riqueza natural e cultural.
Mas falta o essencial: instituições que permitam a renovação. O país vive um paradoxo: muito sofrimento destrutivo, pouca criação construtiva.
Inovamos em crises, mas não em soluções.
O que fazer?
Aghion – agora Nobel de Economia – não é pessimista. Ele acredita que o capitalismo pode ser reinventado para promover crescimento com inclusão e sustentabilidade.
O caminho está em reconstruir o tripé da destruição criadora:
• Competição real (menos protecionismo corporativo);
• Políticas públicas pró-inovação, estáveis e acessíveis;
• Proteção social ativa, para que o novo não destrua vidas junto com empresas.
O futuro do capitalismo, e do Brasil, depende disso: criar enquanto destrói, incluir enquanto transforma.
(*) DJALBA LIMA é jornalista e editor de Pro Today.
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