Na busca da felicidade, um atalho ilusório que antes seduzia os jovens, o consumo de álcool, vem perdendo espaço. Levantamento realizado pela organização britânica Drinkaware revelou uma tendência: no Reino Unido, a proporção de jovens adultos (de 18 a 24 anos) que não bebem aumentou de 14% em 2017 para 21% em 2023.
No Brasil, é um pouco menor o número de abstêmios na faixa etária de 18 a 24 anos: 13%, conforme pesquisa publicada em 2023 pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa). A maior parcela (39%) ingere álcool uma vez por semana ou a cada 15 dias e consome uma a duas doses por ocasião. Entre as mulheres, esse número sobe para 43%.
Outra pesquisa – de natureza qualitativa –, também publicada pelo Cisa neste ano, revelou que, na população de 18 a 24 anos, são determinantes para a redução do consumo de álcool preocupações de ordem social, como o medo de “dar vexame”, ser julgado ou se prejudicar no trabalho.
Insights valiosos
As pesquisas no Reino Unido e no Brasil fornecem insights valiosos sobre as mudanças nos padrões de comportamento em relação ao álcool. Um aspecto notável é a mudança de mentalidade em relação à saúde, ao lado da “censura” de ordem social. Cada vez mais, os jovens estão conscientes dos impactos negativos do álcool na saúde física e mental, além dos prejuízos ao desempenho profissional.
A pesquisa da Drinkaware destaca que a busca por um estilo de vida mais saudável é um dos motivadores principais para a decisão de se abster do álcool. O aumento das informações sobre os efeitos prejudiciais do consumo excessivo de álcool, tanto na mídia quanto nas campanhas de conscientização, parece influenciar positivamente as escolhas dessa geração.
Mudança nas dinâmicas sociais
Além disso, a pesquisa da organização britânica aponta para uma mudança nas dinâmicas sociais. Diferentemente de gerações passadas, em que o álcool muitas vezes desempenhava um papel central nas interações sociais, os jovens de hoje estão buscando formas alternativas de diversão e conexão. Eventos sem álcool, atividades ao ar livre e encontros mais focados em experiências têm se tornado mais populares, sugerindo uma redefinição dos padrões tradicionais de sociabilidade.
Outro ponto relevante é a crescente conscientização sobre a importância do equilíbrio emocional. A saúde mental ganhou destaque na agenda da juventude, e a decisão de se abster do álcool muitas vezes está associada a um desejo de preservar o bem-estar psicológico. A compreensão dos impactos do álcool na ansiedade e na qualidade do sono pode estar impulsionando essa mudança de comportamento.
Em um cenário em que a abstinência do álcool é muitas vezes vista como uma escolha não convencional, esses dados sugerem uma transformação significativa no comportamento desses jovens. As pesquisas da Drinkaware e do Cisa não apenas oferecem um instantâneo dessa mudança, mas também abrem espaço para reflexões sobre como as sociedades podem evoluir para apoiar estilos de vida mais equilibrados e conscientes, valorizando escolhas que promovam a saúde e o bem-estar.
Os riscos das compulsões
Diversos especialistas já alertavam para os riscos associados a comportamentos compulsivos que incluem, além do consumo de álcool, o uso de outras drogas, o exagero na alimentação e o consumismo.
O psicólogo Robert L. Leahy, em seu livro “The Worry Cure” (que pode ser traduzido literalmente como “A cura da preocupação”), destaca como o uso de substâncias para fugir temporariamente dos problemas pode levar a uma espiral ascendente de dependência e desespero.
Pesquisas conduzidas pela Universidade de Harvard corroboram, mostrando que o consumo excessivo de substâncias psicoativas está diretamente ligado a transtornos psiquiátricos.
O que a alimentação tem a ver com felicidade?
No âmbito da alimentação, o exagero e a escolha de alimentos altamente processados têm sido associados não apenas a problemas de saúde, como obesidade e diabetes, mas também a impactos negativos na saúde mental.
A nutricionista Elizabeth Somer, em seu livro “Food & Mood” (literalmente, “Comida e humor”), evidencia como uma dieta equilibrada, rica em nutrientes, pode contribuir significativamente para o bem-estar emocional.
O consumismo, por sua vez, é apontado por especialistas, como o sociólogo polaco-britânico Zygmunt Bauman, como uma busca incessante por satisfação instantânea, muitas vezes à custa do endividamento e da insatisfação constante. Estudos da Universidade de Princeton indicam que a busca por felicidade por meio do acúmulo de bens materiais é frequentemente efêmera, dando lugar a um ciclo vicioso de procura constante por novas aquisições.
A busca por uma jornada sem aditivos
É interessante notar uma tendência entre os jovens em busca de uma jornada sem aditivos. Cada vez mais, essa “geração saúde” opta por evitar não apenas substâncias ilícitas, mas também aquelas socialmente aceitas, como o álcool. Pesquisas da Universidade de Stanford apontam para uma motivação centrada na saúde, no sucesso profissional e em uma vida financeira mais estável.
O crescente movimento em direção à alimentação saudável e equilibrada também reflete essa busca por uma felicidade duradoura. Especialistas como a nutricionista funcional Patricia Davidson Haiat destacam como uma dieta balanceada não só beneficia o corpo, mas também influencia positivamente o estado de ânimo e a saúde mental.
Qual o caminho para ser feliz?
O que podemos fazer, então, para verdadeiramente sermos felizes? Distante dos atalhos ilusórios, especialistas concordam que a felicidade duradoura está intrinsecamente ligada a escolhas conscientes e equilibradas. Cultivar relações interpessoais saudáveis, adotar práticas de mindfulness e buscar um propósito de vida são caminhos apontados por psicólogos renomados, como Martin Seligman, como fundamentais para uma jornada feliz.
Ao compreender os perigos dos atalhos ilusórios e abraçar um estilo de vida equilibrado, podemos construir uma felicidade genuína e duradoura, fugindo das armadilhas que prometem prazer instantâneo, mas que, no fim, deixam um rastro de consequências negativas.
Leia mais sobre o tema neste artigo: Em busca da felicidade: um “mapa rodoviário” para a jornada da vida.